terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ayesh e Rudá (II)

Branco. Realmente, o teto ainda estava branco, como se tivesse sido pintado ontem. Não que fosse importante essa informação, mas era a única informação que Rudá conseguia processar, e, provavelmente, a única coisa que gostaria de pensar durante todo aquele dia. Não queria pensar em mais nada. E quanto mais pensava em não pensar nada, sua imaginação lhe pregava cada vez mais peças. As coisas mais bobas, mais normais no seu quarto o faziam lentamente aproximar o pensamento dela. E sempre que reparava, já estava perdido.

E voltava a forçar sua concentração no teto. Branco como um algodão-doce. Assim, pelo menos os algodões-doce normais, não essas coisas de cores berrantes de hoje. Estranho, pensar em cores berrantes. É uma expressão um tanto quanto bizarra. E era assim que Ayesh costumava se referir a ele, bizarro. Sempre. E ele já tinha acostumado. Com ela, com o jeito dela se expressar, gostava disso, de ser diferente. Mas…

Realmente, o teto era maravilhosamente branco.

Nesse ciclo vicioso, o tempo passou, e, quando viu, já era noite – e nada tinha feito. Sabia dos deveres acumulados, das provas que ainda estavam por vir, mas não podia esperar mais. Não podia crer que tudo ia acabar assim, tão de repente.

Ayesh sempre fora surpreendente. E isso foi o que o atraiu desde o princípio – mas não teve mais poder do que aquele olhar dela. Não que fosse especial para ele, mas o olhar dela lhe parecia, sem ter como usar outra palavra, bizarro.

Se ela tentava, e conseguia esconder os seus sentimentos pelas suas atitudes, não conseguia pelo seu olhar. Quando ela olhava dentro de seus olhos, Rudá não conseguia manter aquele olhar por muito tempo – não era como se ela o lesse pelos olhos, mas como se ela já soubesse, antes mesmo de agir, qual seria a reação dele. E, mesmo assim, aquele olhar esboçava, lá no fundo, um traço de medo.

Não, ele não iria deixar assim.

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